01 FIO A PAR DO MAL
Letra e Música: João Miguel Mota & Pedro Franco
Preso no todo que vai para lá…
Tanto de mim que ficou para trás.
Por um fio…
Preso num fio a par do mal que o faz soltar.
Preso por conta de andar por aí…
Tanto que eu quis acabar por ficar
Por um fio…
Preso num fio a par do mal que o faz soltar.
02 SANGUE IRMÃO
Letra e Música: João Miguel Mota & Pedro Franco
Movido pelo tumulto, bradei à terra trovões,
Investi contra os demais, faltou-me rédea e travões.
Coberto, a sós, em frio abrigo, protelando essa vastidão
De mundo que clama ao meu ouvido: liberdade pelo sangue, irmão!
Só para ficar para sempre, fiz-me existir remoto,
Dobrando as terras sofridas, travando as guerras dos outros.
Só por engano, o inimigo quis provar desse pão
Roubado à fome e embebido no amargo do sangue irmão.
Vem da cegueira, vem de uma miragem,
Os sinos dobram por quem está de passagem.
No fim, quem os fez dobrar?
03 HOMEM DELÍRIO
Letra e Música: João Miguel Mota & Pedro Franco
Homem-delírio sulca o detalhe
No qual o mundo limita o sonho,
E vem por fim semear outra ilusão.
Na aurora mansa, confirmo ter o teu coração de astro louco,
E teimo, por meu o pulsar da vida que corre em ti.
Sofro a derrota de ombros caídos,
Um quarto de lua clara sobre a cabeça,
E tanto mais sob as estrelas.
Na mão do servo curvado,
O labor cativo ordenha o leite à terra mãe,
E a boca tenra do filho prova o milagre em paz.
04 O ESTRANGEIRO
Letra e Música: João Miguel Mota & Pedro Franco
Ninguém sabe de onde vem para lá do rumor,
Escapou de luta ou de lei, exilado ou desertor?
Presta, o estrangeiro, o seu respeito.
Terra de paz descansa o peito.
Olha, a pesar a distância. Arde no cerne a memória.
Pelo murmúrio do vento, findou-se parte da estória.
Presta, o estrangeiro, o seu respeito.
Terra de paz descansa o peito.
Gente sofrida sabe honrar as estórias que custam a contar.
05 ESCOMBROS
Música: João Miguel Mota & Pedro Franco
Instrumental
06 HERA
Letra e Música: João Miguel Mota & Pedro Franco
Distante, extremo, sem fim,
O céu tão longe daqui…
Prossegue, o cortejo de gala, rogando por um bem maior,
Nem um murmúrio relembra a tua voz, o silêncio é por nós.
Do abismo do ser,
Do que não tem lugar,
É preciso perder,
Abrir mão, libertar!
E rompe o acorde que o louvor final sustenta,
Escondido, o coração, defeso em dor.
A lembrança é uma hera
Que se abraça à primavera
E adormece na quimera,
Para além da noite.
A terra ressoa
A ária do mar, o verso ancestral,
A primeira trova,
A palavra mãe, o hino que ressoa…
(A lembrança é uma hera que se abraça à primavera)
Contem-se as pedras erguidas entre as ruinas.
07 TERRA PROIBIDA
Letra e Música: João Miguel Mota & Pedro Franco
Quando a horda se afastar,
O chão pode florir de novo
Entre os destroços da manhã
Na velha Canaã.
Sendo que o mesmo mundo
Esconde o paraíso,
O que é da vida na terra prometida?
No mesmo chão dorme a manada,
Alheia à escritura sagrada.
O mesmo deus nutre o rebanho,
Alheio ao seu tamanho.
Estrangeiro ao mesmo mundo,
Está o paraíso,
Vencido e moribundo,
Roga o paraíso,
Por outra vida na terra proibida.
08 VALSA DO ACASO
Letra e Música: João Miguel Mota & Pedro Franco
Tinha tanto mais para dizer,
Que me calei no fim sem te contar o que passei.
Todas as palavras por escrever
Prometem mais que o livro que acabei.
Fiquei mudo à espera que o acaso
Te dissesse o que eu pensei.
Eu tinha segredos para contar,
Para partilhar contigo e que acabei por me esquecer.
Tenho-me deixado enganar
Pela vida e pelas mentiras que me andam a dizer.
Fiquei mudo à espera que o acaso
Te levasse a entender.
Tudo o que eu queria era abrir-te o coração,
Revelar-te tudo o que cobri na solidão,
Emergir da água toda a minha confusão,
Mas fiquei mudo à espera que o acaso
Te poupasse a omissão.