Um Corpo Estranho EP (2012)

EP – Um Corpo Estranho

Auto Coação
(Letra e Música: João Mota e Pedro Franco)

Auto Coação

A lutar por defeito, a caminhar às cegas,
De punhos fechados a combater fantasmas.
De dentes cerrados amordaçava a mente
E olhava o abismo a calcular a queda.

Eu tinha o peito feito num erro perfeito.
Eu tinha o peito feito à treva.

Vi que no tempo em que estive em paz com a solidão,
Estive enganado sob minha auto-coação.

A noite afogada no canto de um balcão,
Onde eu destilava o meu coração.
Invocava infinitos a bem de me esquecer
A remota morada onde te quis perder.

Eu dormia no fundo do ventre do mundo.
Dormia no fundo de um sono profundo.
E rugia do fundo da boca do mundo,
Rugia no fundo,
A tua voz a combater para não morrer.

Amor em Contramão

(Letra e Música: João Mota e Pedro Franco)

Amor em Contramão

Dizes que a vida te foge, que tens medo
Que um dia de arrependas de voltar atrás.
Eu finjo dar importância ao teu lamento
E uso falsos argumentos p’ra que não te vás.

Toda a gente te avisou de que eu não presto,
Que me viram por aí com outras mulheres,
Que eu tenho má bebida, que não sou honesto,
Mas quanto mais eu saio da linha mais tu me queres.

Andamos já há tanto tempo em contramão,
No engano de contrariar a solidão,
Mas ninguém pode ser feliz, como se diz, numa prisão.

Ambos entrámos neste jogo p’ra perder,
Nunca existiram trunfos nem batota.
Mas não viemos dar à praia p’ra morrer
E quem sempre correu por gosto não se esgota.

E se um dia todas as portas se fecharem,
Havemos de encontrar uma janela,
P’ra nos rirmos do mundo através dela.

No Fim Tudo Está Bem
(Letra e Música: João Mota e Pedro Franco)

No Fim Tudo Está bem

Eu não sei quem foi que sonhou com um tempo melhor,
Que lutou por ter uma voz que há muito se calou.
Fui tolo em pensar que existia um desejo em mudar,
Que ainda haviam pernas para andar num mundo de pernas para o ar.

E no fim tudo está bem, assim se possa contar,
Que ao menos sirva a alguém quando tudo acabar.

No ventre de Deus já não há lugar para os seus,
Já não há divino nem pagão a colorir os céus.
Resta-nos sorrir ao inferno que está para vir,
Se o diabo teima em resistir aqui, seja assim.

E no fim tudo está bem, assim se possa contar,
Que ao menos sirva a alguém quando tudo acabar.
E no fim tudo está bem, assim se possa contar,
Haja quem possa contar.

Concubina
(Letra e Música: João Mota e Pedro Franco)

Concubina

Concubina, flor de abismo,
Masoquismo que me domina.
Serpenteia o meu corpo em chama,
Tudo inflama e agora eu sou um joguete a arder nas tuas mãos.

Noite em branco na tua cama,
Hoje um drama uma chaga aberta.
Má memória de uma vertigem
Na origem do que foi uma ilusão.

Concubina, flor de abismo
Masoquismo que me domina.
Hábil serpente, insurgente.
És o meu vício, o meu acidente
A minha sede é urgente.

Obsceno coração cavo,
Dei um travo no teu veneno.
Fiquei prisioneiro dessa droga
Que me afoga a lucidez no vazio.

Sou um cão na tua saia,
Lacaio do teu capricho.
Sou um bicho, um ser doente
Dependente, à espera da extrema unção.

Coração Obsceno
Eu dei um travo no teu veneno.

Bicho Escondido
(Letra e Música: João Mota e Pedro Franco)

Bich Escondido

Bicho escondido sobre a pedra
Sai que no céu já espreita a lua
Vem que o milhafre dorme
Até que a manhã retorne.

Bicho encoberto na erva,
Deixa que o sangue te ferva.
Acorda os teus iguais
Lembra que somos mais.

A noite cai no teu jardim,
Se ouvires alguém cantar
Não deixes de escutar,
Que o tempo vai passar por ti
Sem pedir permissão,
Em falsa lentidão.

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