Review Homem Delírio pelo Blogue Deus me Livro

O projecto Um Corpo Estranho, dos ilustres setubalenses Pedro Franco e João Mota, lançou este ano o terceiro álbum de originais. Chama-se “Homem Delírio”, e foi editado no passado mês de Março pela Malafamado Records, com o apoio da Fundação GDA. O disco marca uma nova etapa na vida do duo: depois do rock mais vincado do anterior “Pulso”, de 2016, “Homem-Delírio” coninua ancorado nas guitarras, mas é um trabalho mais atmosférico, contaminado por ambientes e humores de banda sonora.

Os Um Corpo Estranho contam, no currículo, com bandas sonoras para bailados e peças de teatro, incursões que talvez expliquem o lado mais ambiental deste novo trabalho. A produção esteve a cargo de Sérgio Mendes, cúmplice habitual da banda, e no disco encontramos também o piano de Paulo Cavaco e o acordeão de Celina da Piedade.

Continua presente o imaginário muito Morricone que já havia no anterior trabalho, música de desertos empoeirados com ocasionais traços de burlesco. É assim o delicado tema homónimo, “Homem-Delírio”: começa com uma guitarra tex-mex sobre a qual a paira a voz, cristalina, como se de um fado se tratasse, carpindo sobre derrotas e melancolias. A música envolve-nos, faz-nos projectar um western spaghetti na nossa cabeça. O segundo avanço, “Sangue Irmão”, remete para uns Radiohead menos electrónicos, sem deixar de soar bem nacional. É quase operático, uma lenta descida ao vazio.

Há, por vezes, algumas notas de electricidade, num disco predominantemente acústico – veja-se a guitarra eléctrica de “Valsa do Acaso”, a rasgar o ambiente de burlesco, perto do final do tema, ou o fuzz elétrico no meio de “Escombros”. De destacar também “Hera”, elegante canção assente em frases de piano, a fazer lembrar as bandas sonoras do compositor minimalista Michael Nyman.

O lado cinemático do disco está bem patente no interessante vídeo de “O Estrangeiro”: verdadeira curta-metragem surrealista, que complementa bem o imaginário da música, acentuando o pendor dramático e poético do tema. Fala-se sobre o que é ser um estranho numa terra estranha, matéria oportuna nestes tempos de muros e fronteiras implacáveis.

A viagem encerra-se com o jogo de harmonias vocais de “Valsa do Acaso”, deixando o retrato de uma banda em boa forma – “Homem Delírio” é uma narrativa com interessantes ideias musicais, um universo muito particular contido neste disco sofisticado e melancólico. Uma peça de teatro à qual apetece voltar mais vezes.

Link: http://deusmelivro.com/musica-com-cabeca/um-corpo-estranho-homem-delirio-8-5-2019/#.XiOTti2tHEY

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